Eu já me sentei nessa calçada outras vezes, por outros motivos ou por motivo algum.
Aqui eu já pedi pra Deus abreviar os meus dias, já pedi pra que um único dia não passasse.
Aqui eu chorei sozinho, em dupla, trio, quarteto.
Dei e ouvi as risadas mais gostosas.
Uma vez deixei meus pensamentos me levarem tão longe que dormi.
Dormi o sono dos mendigos.
Mais ou menos às três da manhã acordei.
Estava com fome, muito frio e todo o meu corpo doía.
Lá estava o menino que sem medos ou esperanças se julgava num vazio só.
Mas, nesse mesmo lugar, comemorei muitas vezes.
Dei os primeiros flertes e, em algumas vezes me saí bem.
Brinquei de esconde-esconde, pega-pega, amarelinha, bolinha de gude, chute a gol e até rodei peão [antes de vir o piso].
Nessa calçada, de olhos esbugalhados e bem juntinhos, sentados e em extremo silêncio ouvíamos as histórias do sr. Augusto [que sempre alimentava os pombos com as migalhas do seu café da manhã].
As piadas irreverentes do "tio" Chico [um sonhador incorrigível] e os gritos e chatices da dona Irma [a vizinha bruxa].
"Tudo" mudou.
O sr. Augusto faleceu.
"Tio" Chico parou de sonhar.
A vizinha bruxa agora é médica.
E nós [meninos e meninas puritanos] crescemos, crescemos muito.
Só essa calçada permanece intacta, sei exatamente o lugar onde muitas vezes ralei meus joelhos e definhei os fundos da calça.
Leia também: http://vivourgente.blogspot.com/2010/08/s-e-x-o.html
Aqui eu já pedi pra Deus abreviar os meus dias, já pedi pra que um único dia não passasse.
Aqui eu chorei sozinho, em dupla, trio, quarteto.
Dei e ouvi as risadas mais gostosas.
Uma vez deixei meus pensamentos me levarem tão longe que dormi.
Dormi o sono dos mendigos.
Mais ou menos às três da manhã acordei.
Estava com fome, muito frio e todo o meu corpo doía.
Lá estava o menino que sem medos ou esperanças se julgava num vazio só.
Mas, nesse mesmo lugar, comemorei muitas vezes.
Dei os primeiros flertes e, em algumas vezes me saí bem.
Brinquei de esconde-esconde, pega-pega, amarelinha, bolinha de gude, chute a gol e até rodei peão [antes de vir o piso].
Nessa calçada, de olhos esbugalhados e bem juntinhos, sentados e em extremo silêncio ouvíamos as histórias do sr. Augusto [que sempre alimentava os pombos com as migalhas do seu café da manhã].
As piadas irreverentes do "tio" Chico [um sonhador incorrigível] e os gritos e chatices da dona Irma [a vizinha bruxa].
"Tudo" mudou.
O sr. Augusto faleceu.
"Tio" Chico parou de sonhar.
A vizinha bruxa agora é médica.
E nós [meninos e meninas puritanos] crescemos, crescemos muito.
Só essa calçada permanece intacta, sei exatamente o lugar onde muitas vezes ralei meus joelhos e definhei os fundos da calça.
Leia também: http://vivourgente.blogspot.com/2010/08/s-e-x-o.html
Alberto Caeiro lhe responderia assim:
ResponderExcluir"Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?" (...) e acrescentaria...
"O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum."
Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos
Lindo seu texto...
ResponderExcluirtodo mundo tem uma calçada...
um muro...uma praça...
Mas...só a tua calçada tem esse texto tão poético...
Beijo
Para mim,
ResponderExcluiros comentários transcederam a obra.
Obrigado Dom
Obrigado Leca
Comentários sensivéis, enrequecedores e lindos.