quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Corpos Transeuntes

Eu disse amém.
O tempo é um vexame para mim.

Eu a encontro em corpos transeuntes.
Em partes de corpos transeuntes.
Nos fios de cabelo, na cor dos fios de cabelo, no comprimento deles, na leveza.
Mas, são só transeuntes.

Na estatura de sol.
Mas, são só transeuntes.
Em todo o olho negro e em toda pele branca. 
Mas, são só transeuntes.
A multidão de transeuntes é um imã para mim.
Ofensivamente bela.
Tem o formato de uma mão. 
Firme e delicada como seu espírito e alma. 
Um resquício de fisionomia transeunte e tudo vem à tona.
Uma fuga frustrada desde o início.
Também tudo o que é distante, silencioso, frio, recôndito é um reencontro.
Sei que ela está aqui, não preciso vê-la nem preciso que me digam para saber.
A alma dela, coerente, corre para os meus braços.
Nos beijamos no meio da rua.
Alma com alma, o que é o tempo para elas?
O corpo dela rebelde nem se mexe ou fala.
Pasmam os transeuntes.
Desejosos de encontrarem um amor assim.

Segundo Cícero, amigo e padre, terei que confessar esse amor perpetualmente.
Me poupou de outras punições que não a saudade e os transeuntes.

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