sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Já!


Já fingi que estava doente para faltar à aula e assistir televisão durante a manhã inteira.
Pixei muros, quebrei janelas de vizinhos e corri pra de baixo da cama.
Dancei em aniversários de 15 anos e curti à beça.
Tive várias crises de bronquite na infância, com a mesma frequência com que amei e "desamei" meus amores imaginários.
Fugi de casa e voltei antes do meu programa favorito começar.
Dei os nomes para os oito cachorros e os dois papagaios que tive e que ficaram comigo menos de um mês cada.
Cantei durante tardes inteiras as mesmas músicas.
Senti uma felicidade intensa quando ouvi minha sobrinha pronunciar meu nome pela primeira vez.
Já fui posto para fora da sala sem ter culpa de nada e tendo culpa também (e essas foram muitas).
Tirei nota baixa e levei "bomba".
 Discuti com minha professora de matemática porque achava ela uma chata, mas hoje percebo que não fui tão legal quanto pensei que tivesse sido.
Eu falei: "tipo assim", "então" e "né" em cada frase pronunciada.
Me apaixonei por minha melhor amiga do parquinho e acho que ela também se apaixonou por mim e, ambos nos apaixonamos pelos personagens do filme: 'Um amor para recordar' (foi um barato!).
Curti pakas Legião Urbana, chorei com minha turma ouvindo 'Vento no litoral', 'Giz' e 'Hoje a noite não tem luar' e pulei ao som de 'Vamos fazer um filme', 'Faroeste caboclo' e 'Eduardo e Mônica'.
Já quis aprender a tocar violão, piano, sax e bateria.
Já quis aprender a falar inglês, espanhol e alemão e essa fase ainda não passou, mas decidi primeiro: rodar um pião, soltar uma pipa e encher um pote de bolinhas de gude.
Já alcancei o pico mais alto da montanha mais alta e descobri que lá é frio e que não cabem duas gentes, então peguei o caminho de volta.
Vivi a emoção de passar no vestibular e a frustração de não conseguir enfrentar até o fim a facu.
Senti falta da velha escola.
Fiz a lista do primeiro dia do ano - aquela das cem coisas que você não pode deixar de fazer.
Refleti sobre a vida em meus aniversários.
Já decidi meu futuro, pelo menos, umas mil vezes.
Tentei mudar, acho até que melhorei, mas eu sou assim.
Escrevi um livro.
Plantei uma árvore.
Perdi a chave de casa, me desfiz de meios amigos e do porquinho de moedas da vovó.
Já desperdicei oportunidades únicas e senti um vazio gigante!
Mas logo em seguida dormi e quando acordei quase tudo pareceu estar no seu devido lugar.
Passei noites inteiras navegando na internet e assistindo filmes sem graça, daqueles que quando terminam você diz: - Não acredito!
Decidi conquistar a garota dos meus sonhos, eram quase quatro da manhã, liguei para dizer que te amo - eu disse - mas acho que ela não me ouviu.
Já quis fazer uma tatuagem, mas na hora H eu falhei!
Depois voltei lá e fiz duas - "Só para provar pra todo mundo, que eu não precisava provar nada para ninguém."
Já morei sozinho.
Já senti aquele frio na barriga.
Já esperei o telefone tocar.
Já caí na gargalhada no ônibus, em reuniões e em outros lugares muito impróprios, lembrando de nós.
Já passei pelo mico de estar no cinema com duas amigas e ouvir um monte de "psiu" e "silêncio, por favor!" eram para elas chorarem mais baixo.
Ganhei uma farda, parei com a bola.
Ouvi uma música e li uma frase e pensei em alguém.
Já tive um grande amor e por amor eu sorri, chorei, zanguei, dei o meu melhor, por amor eu abri mão.
Depois tive que recomeçar tudo do zero, de novo, mas essa é outra história.
Virei um dia no bar, chega fiquei mole... era bebida pra lá e pra cá, mas aquele bico de garçom, definitivamente, não era pra mim.
Ganhei melhores amigos (esses estão comigo até hoje).
Descobri novos lugares, novos estilos musicais, novas maneiras de ver a vida.
Arrumei um emprego, mandei meu chefe se ferrar e transformei minhas ideias em negócios.
Me apaixonei pelo risco.
Fiquei triste quando percebi que maioria das pessoas mais próximas não acreditavam em mim, mas tudo bem, eu também aprendi a não acreditar em todo mundo.
Tentei aprender a cozinhar e é claro, minhas visitas adoram quando eu ligo para pedir pizza ou qualquer coisa que já venha pronta.
Tentei ler um jornal inteiro, mas fiquei entediado.
Até hoje compro revistas só para ler o assunto da capa.
Não acredito em horóscopo, mas não custa ler.
Fui acampar em turma, viajei só, vi o pôr-do-sol e percebi quanto tempo perdi apenas admirando a lua.
Vi uma estrela cadente e consegui fazer um pedido.
Já apostei a última ficha e perdi e isso aconteceu mais de uma vez.
Me arrependi de coisas que fiz e de tantas outras que eu devia ter feito.
Estive em situações nas quais agi e me senti um idiota, um burro!
Um dia acordei me achando o homem mais lindo do mundo, mas aí olhei no espelho e percebi, que bobagem!
Não tentei muitas coisas por medo de não conseguir e já tentei outras até demais.
A razão sempre foi minha única esposa, até eu descobrir que a vida é muito curta para casar-se com uma só.
A verdade é que meu estilo de vida faz com que eu sempre dê passos maiores que as pernas e, talvez, por ocasião do destino eu chegue mais longe (ou não, tanto faz).

3 comentários:

  1. Muito do que li aí em cima me fez rir, me fez pensar, me fez lembrar e, o mais importante, me fez dizer: eu também.

    Parabéns pelo texto!

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  2. A gente vive, apesar de tudo o que viveu; fala aí!

    Muito louco isso, de lembrar e discordar, de relembrar e concordar.

    Gostei muito viu. Seja assim sempre!

    Abraço!

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  3. Eu 'ainda' tenho 17 anos, estou no meu último ano da escola, e ler esse texto, fez com que a saudade viesse mais depressa.
    Parabéns por tanto talento e pelo encantar das pessoas e, eu também não desistiria da casa na árvore rs.

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