Série: O Grito do Prisioneiro I

 

Sou uma fabricação toda torta
e essa tortura, tortura de verdade – mas com o tempo, tendemos a não seder tanto a pressão.

É desconfortante o não encaixar-se,
o não sentir a liberdade de ser o que se é.

Pior ainda é ver – não de mãos atadas e cheio de conformidade ou vitimologia – que as massas se bem trabalhadas, ficam mesmo homogenias. Aliás, deve estar havendo uma epidemia de homogeneidade...

... uma enorme pena... eu adorava a peculiaridade das pessoas.

Culpa dos nossos políticos-mercenários,
e da roda sobre a qual eu e Dom falávamos noutro dia.
Ou talvez não... talvez, seja mesmo o aquecimento global.

Seja como for,
afetou não só a camada de azônio,
afetou a camada mais alta,
a mais baixa,
afetou a tua camada – caro camarada
e agora a minha.

Ao rompermos com a dança do acasalamento e a dança da chuva, só fizemos parar o
barulho. Agora cada qual dança só, desritmado, numa falta tremenda de alguém que lhe acerte o passo.

Que o mundo vai acabar de pernas pro ar, a gente já sabia.
Mas o foda é que essa merda toda já estava no ventilador faz tempo.